“Igreja do Rosário de Pombal: Três séculos de História e devoção”, por Francisco Vieira

Exultante a felicidade vem à tona para manifestar o amor por Pombal. Daí minha afirmação: sou pombalense sim, com muito orgulho.

Saudosista incontinente, mergulho no passado de onde trago em retalhos um pouco da Pombal de outrora, da qual muito não mais existe, salvo, quando eternizada na memória de seu povo, A propósito, quem não sente saudade, certamente não tem passado.

No ano do tricentenário da Igreja do Rosário de Pombal, reviver seu passado é oportuno e necessário, ressuscitar os fatos é preciso para exaltar nosso potencial histórico, religioso, artístico e cultural.

Assim, louvo entusiasmado a grandeza da Terra de Maringá, num momento singular de sua história, qual seja, os 300 anos de fundação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, marco da colonização sertaneja e legado patrimonial que o tempo transfere as gerações futuras.

A história remonta aos idos de 1701, começando numa modesta capela destinada a prática dos sacramentos religiosos e a catequese dos nativos da região. Uma vez demolida, foi edificada próximo ao local da primeira, em pedra e tijolo, a Mariz de N. S do Bom Sucesso – Padroeira do Município, iniciada em 1721 e concluída três anos depois.

Com a conclusão da atual Matriz do Bom Sucesso, em 1897, a imagem da padroeira foi transladada solenemente para o novo templo, sendo a antiga igreja, a partir de então, destinada ao culto a Senhora do Rosário, sob a égide da irmandade do mesmo nome.

A Igreja se destaca pela arquitetura barroca, estilo introduzido no Brasil no Séc. XVII, sob influência de missionários católicos jesuítas. Adentrá-la é contemplar sua exuberância, reverenciar a Virgem Santa e sentir os fluídos emanados dos céus. Sua beleza de detalhes e religiosidade se constituem monumento patrimonial do município e orgulho de seu povo.

Formada de paredes robustas e espessas, sua estrutura lhes garante resistência ao inexorável tempo e conservação de sua imponência. A edificação que durou cerca de vinte anos, se deu pela mão de obra de escravos, índios e trabalhadores livres, sob os cuidados do mestre-construtor Simeão Barbosa. Oh! Quão prazeroso é vê-la ainda pomposa, alimentando fé, despertando devoção e atraindo visitantes.

Digno de nota a figura lendária de Manoel Cachoeira na história da igreja. Ressalte-se sua fé, devoção e coragem, dirigindo-se a pé e sozinho até a Diocese de Olinda – Pe, tendo como recompensa a Autorização Canônica de criação da Irmandade do Rosário. A ele tributamos todo mérito pela criação da confraria e realização da primeira festa em louvação a Virgem do Rosário, em julho e outubro de 1875, respectivamente.

Pela força da fé e devoção a festa popularizou-se inserindo no contexto o sincretismo religioso com a incorporação dos Pontões, Congos e Reisado, tornando-se a maior manifestação sócio, religiosa e cultural do sertão, quiçá do estado, considerando as proporções populacionais.

O centro de Pombal apresenta rico acervo arquitetônico, um dos espaços públicos mais belos e representativos da Paraíba. São prédios, praças e monumentos seculares que cumulam importantes capítulos da história e que bem justifica o tombamento instituído conforme Dec. de 03/04/2002, do então Governador José Maranhão.

Unindo o religioso ao leigo, a festa cresceu como num arrebatamento. Dada sua importância, a maior manifestação de fé católica do estado, está para o pombalense assim como o carnaval para o carioca. Portanto, um misto de fé, tradição e calor humano que se traduz no encontro entre filhos e amigos de Pombal. A propósito, não é em vão que se intitula Festa do Encontro e Reencontro. Sua essência está evidente no caráter religioso, prazer do encontro, calor do abraço e na celebração do momento, ressurgindo o ontem e vivendo o hoje com vistas no amanhã.

Marcada pelo sagrado e o profano, a convicção se fortalece nos devotos contritos em oração, na criançada que se diverte e no romantismo que se estabelece. É o romance que começa, se renova ou se finda deixando marcas que se inflamam, quer pelo perfume preferido ou a música que reflete a história do casal.

Fatos e pessoas constroem a história fazendo dela uma relíquia.  Afinal, são três séculos de devoção e calor humano, fortalecendo a crença e os laços de afinidade entre filhos e amigos de Pombal.

Não obstante ao tombamento pelo IPHAEP, lamenta-se o não cumprimento da Lei de Preservação como descaso ao patrimônio histórico. Como se não bastassem os minguados investimentos e o tímido apoio das autoridades – o que é pior – se mostrando alheias e indiferentes ao caso, enfrentamos ainda a falta de conscientização humana e seus efeitos danosos. São ações desrespeitosas que destroem um passado mergulhando no ostracismo toda uma história. Daí o aviltante conceito de que o Brasil é um país sem memória. Portanto, preservá-la é preciso. E, para tanto somos responsáveis.

O texto sintetiza um passado secular e memorável, que transmitido aos novos assegura a perpetuação dos fatos. Afinal, o disse me disse nos dá a certeza de que a história nunca terá fim.

Aqui, eis o meu tributo, que compartilho com todos os filhos de Pombal, conscientes da importância da nossa Igreja do Rosário e o relevante papel na evangelização no município e região.

Como dizem os devotos: VIVA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, SALVE SUA FESTA.

Pombal, 18 de fevereiro de 2021.

Francisco Vieira – Professor